Ciência e Weltanschauung - a Álgebra como Ciência Árabe. L. Jean Lauand Universidade de São Paulojeanlaua@usp.br Originalmente, conferência proferida em 14 - 4 - 98 na Universidad Autónoma de Madrid - Depto. de Estudios Árabes e Islámicos. 1. A Ciência e seu contexto cultural Nesteestudo,analisaremosaÁlgebracomociênciaárabe.Comecemosporanteciparalgunstópicosdediscussãosobrequesignificadopodeterfalarem ciênciadestaoudaquelanaçãooucultura-paraalémdomerofatodeindicaroestágiodedesenvolvimentoouaproduçãodoscientistasdeuma nacionalidade,comoquandosediz:"aFísicarussaestábastanteadiantadaeédetentoradediversosPrêmiosNobel"ou"sóaMedicinaamericanaconsegue fazer esse tipo de transplante" etc. Ordinariamentetendemosapensarqueoconhecimentocientíficoindependedelatitudeseculturas:umafórmulaquímicaouumteoremadeGeometria sãoosmesmosemlatimouemchinêse,sendoacomunicaçãooúnicoproblema-assimsepensa,àprimeiravista-,bastariaumaboatraduçãodostermos própriosdecadadisciplinaetudoestariaresolvido.Naverdade,sabemosqueascoisasnãosãotãosimplesenãoéprecisomuitoesforçoparalembrarquea evoluçãodaciênciaestárepletadeinterferênciashistórico-culturais,condicionandoosurgimentodeumadisciplina,oreconhecimentodeumresultadooua adoção de um procedimento científico... Éconhecido,porexemplo,ofatodequeespíritostãoinovadorescomoGalileuouDescartesapegaram-seao"dogmacientífico"dohorroraovácuo(1);só Pascal-namesmaépocaeapósmuitarelutância-superouesseerro.Descartes,emseuPrincípiosdaFilosofia-mesmotratadoquecomeçaafirmandoser necessárioduvidarradicalmentedetudooquepossaapresentaramaisínfimaincerteza-,tomacomoumaintuiçãoirrefutáveldarazãoaidéiatradicionalde que a natureza tem horror ao vácuo... Essescondicionamentossãodediversasordens.Assim,aodizerqueaGeometria(geo-metria,emgrego)éumaciênciagregaouqueaÁlgebra(al-jabr)é uma ciência árabe (2) , estamos afirmando algo mais do que a "casualidade" de terem sido gregos ou árabes seus fundadores ou promotores. Aproximamo-nosdosentidodaexpressão"ciênciaárabe"quandopensamosemcasosparalelos.Diz-se,porexemplo,queacaligrafiaéuma"arteárabe", masnãosedizqueapinturaouoteatrosejam"artesárabes".Nessescasos,nãoestamosaquiinteressadosnofatodehavermuitosetalentososcalígrafos árabes(ounodacorrespondenteescassezdepintores),masnuma"conexãodesentido"entreaartecaligráficaefatorescomo:aatitudeárabeperantea escrita(esuarelação,digamos,comomodocomooAlcorãoconsideraosayyat,ossinaisdeDeus);adesconfiançasemitaemrelaçãoàimagem;alínguaea religião; etc. (3). NocasodaÁlgebra,nãofoipormeroacasoqueelasurgiunocalifatoabássida("aocontráriodosOmíadas,osAbássidaspretendemaplicarrigorosamente aleireligiosaàvidaquotidiana"(4)),noseioda"CasadaSabedoria"(Baytal-Hikma)deBagdad,promovidapelocalifaAl-Ma'amun(5),umaciêncianascida em língua árabe e criada por Al-Khwarizmi, pioneiro da ciência árabe e "antagonista da ciência grega" (6). Certamente,oqueamodernamatemáticaentendeporÁlgebrapodeparecerumafriaeobjetivaaxiomática-constitutivadeumasintaxedeestruturas operatóriasedestituídadequalqueralcancesemântico-,masessaÁlgebradehojeéoresultadodaevolução-emdesenvolvimentocontínuo-davelhaal-jabr, forjada por um contexto cultural em que não são alheios, elementos que vão desde as estruturas gramaticais do árabe à teologia muçulmana da época... 2. Al-jabr e al-muqabalahMuhammadIbnMusaAl-Khwarizmifoimembroda"CasadaSabedoria",aimportanteacademiacientíficadeBagdad,quealcançouseuesplendorsobAl-Ma'amun(califade813a833).Aele,Al-KhwarizmidedicouseuAl-Kitabal-muhta-sarfyhisabal-jabrwaal-muqabalah("Livrobreveparaocálculodajabreda muqabalah"), o livro fundador da Álgebra. Comecemosporobservarqueaspalavrasquenomeiamanovaciência,al-jabreal-muqabalah,emboraempregadasporAl-Khwarizmiemsentidotécnico, eram (e ainda são) termos da linguagem corrente árabe. O radical trilítere j-b-r (7) está associado aos seguintes significados: Força:porexemplo,oanjoGabriel,Jibryl,é,literalmente,força-de-Deus.NoAlcorão(59,23),Al-Jabar-oforte,oquefazvalersuavontade-éumdos99nomes de Deus. Forçaquecompele,queobriga:nestesentido,oAlcorãodiversasvezes(11,59;14,15;28,19;40,35;etc.)empregaj-b-rpara"tiranizar","tirano"etc..Nãopor acaso,acorrenteteológicamuçulmanaquenegaolivre-arbítriodohomememfavordeuminevitáveldestinopré-determinadofoidenominadajabariyah.E também o serviço militar compulsório é ijbary... Restabelecer:pôr(ourepor)algoemseudevidolugar,restabelecerumanormalidade.Daíquetajbirsejaortopediaejibarah,redução,nosentidomédico: reconduzir(talvezforçando-oportala,gessoetc.)oossoaseudevidolugar:naEspanha,notempoemqueosbarbeirosacumulavamfunções,podia-severa placa "Algebrista y Sangrador" em barbearias (8). "Álgebra" no sentido de "ortopedia" vigorou, por muito tempo, também na língua portuguesa (9).PorqueAl-Khwarizmiescolheapalavrajabrparaoprocedimentofundamentaldesuanovaciência?Precisamenteporque-analogamenteàortopedia-a Álgebraé"forçarcadatermoaocuparseudevidolugar".JánocomeçodeseuKitab,Al-Khwarizmidistingueseisformasdeequação,àsquaistodaequação dada pode ser reduzida (e, portanto, canonicamente resolvida). Em notação de hoje: Al-jabr é a operação que soma um mesmo fator (afetado do sinal +) a ambos os membros de uma equação para eliminar um fator afetado com o sinal - . Jáaoperaçãoqueeliminatermosiguaisousemelhantesdeambososladosdaequaçãoéal-muqabalah(que,porsuavez,derivadoradicalq-b-l,cujo significadoé:estarfrenteafrente-daíaqiblahnamesquitaindicaradireçãodeMeca-;caraacara-daítambémqueqabilasejatambémbeijar-;confrontar; equiparar -"toma lá, dá cá" - etc.). Seja, então, um problema em que os dados podem ser postos sob a forma: Al-Khwarizmi procede do seguinte modo: Divide por 2 e reduz os termos semelhantes: E o problema já está canonicamente equacionado. Feitaestadigressãotécnica,passemosaanalisar(emalgunscasosnãoserápossívelsuperarameraalusãoindicativa...)asrelaçõeseconexõesdesentido que se dão entre a Álgebra e alguns aspectos da cultura árabe. 3. A Álgebra no Islam: o religioso e o temporal Comecemos pelos fundamentos das necessidades práticas da sociedade. Emseuestudo"L'Islametl'épanouissementdessciencesexactes"(10),RoshdiRashed,paramostraraconexãoentreAlcorão,ciênciaevidaprática, exemplificaprecisamentecomaÁlgebra:'ilmal-fara'id(ciênciadapartilha,daherança).Osprópriosjuristasreferem-seàÁlgebracomohisabal-fara'id,o cálculodaherança,segundoaleicorânica.Eaítemosjáumprimeirocondicionamentohistórico-cultural,própriodoIslam,noqualocasodaherançaé emblemático. Trata-se da sólida união que se dá no Islam entre a ordem religiosa e a temporal. Porcoincidência,omesmoproblemadaherança(paraomuçulmano,sobalegislaçãodiretadeAllah)épropostoaCristo.Cristo,quedeclara-algo impensável na visão muçulmana - "A César o que é de César; a Deus o que é de Deus", recusa-se a estabelecer concretamente os termos da herança. Trata-sedeumepisódioevangélicoaparentementeintranscendente:"umdamultidão"aproxima-sedeCristoefazumpedido:queJesususeSuaautoridade paraconvencerseuirmãoarepartircomeleaherança(Lc12,13).Parasurpresadaquelehomem(econtrariandoamentalidadeantigaeaoriental,que uniamopoderreligiosoaquestõestemporais...),Cristorecusa-seterminantementeaintervirnessaquestão:"Homem,quemmeestabeleceujuizouárbitrode vossapartilha?"(Lc12,14).OmáximoaqueCristochegaéaumacondenaçãogenéricadacobiça,contandoaessesirmãosaparáboladohomemricocujos campos haviam produzido abundante fruto e com o célebre convite à contemplação dos lírios: "Olhai os lírios do campo...". Bemdiferentessãoascoisasnomundomuçulmano.RogerGaraudy,nocapítulo"FéePolítica"mostracomoatawhid(unidade,dogmacentralislâmico) muçulmanaseprojetasobreapolítica,odireitoeaeconomia:"Deuséoúnicoproprietárioeeleéoúnicolegislador.TaléoprincípiodebasedoIslamemsua visão de unidade (tawhid)" (11) . GaraudytemrazãoaoafirmarquenãosedánoIslam(nãohásacerdotes),umateocraciaclericaldetipoocidental,maséinegável,também,queavisão muçulmana tem favorecido uma forte e arraigada teocracia própria e não por acaso o chefe político se intitula ayyatullah, "sinal de Deus" (12) . Sejacomofor,ofatoéque,naquestãodaherança,oAlcorão(4,11ess.)dizconcretamente:"Allahvosordenaoseguintenoquedizrespeitoavossos filhos:queaporçãodovarãoequivalhaàdeduasmulheres.Seestassãomaisdeduas(13),corresponder-lhes-ãodoisterçosdaherança.Seéfilhaúnica,a metade.Acadaumdospaiscorresponderáumsextodaherança,sedeixafilhos;massenãotemfilhoselheherdamsóospais,umsextoéparaamãe.Etc., etc.". E conclui: "De vossos ascendentes ou descendentes, não sabeis quais vos são os mais úteis. Isto compete a Allah. Allah é onisciente, sábio". Contrastemoscomocristianismo.Naturalmente,paraumcristão,omundoécriaçãodeDeuseobradesuaInteligência:omundofoicriadopeloVerbum e,portanto,conheceromundoéconhecersinaisdeDeus.Emais:cadacriaturaéporqueécriadainteligentementeporDeus,participadoserdeDeus.ODeus cristãoéEmmanuel,Deusconosco,epelaEncarnação,aeternidadedeDeusingressanatemporalidadeeCristoencabeça,recapitula(comodizoCatecismoda Igreja Católica) toda a realidade criada. DaíqueaIgrejadefendatenazmentealeimoral,leinaturaldadignidadedoserdohomem,quelhefoiconferidapeloatocriadordoVerbum.Mas, precisamenteporessamesmaconcepçãoteológica,ocristãopodeafirmaramaisdecididaautonomiadasrealidadestemporais:porqueomundoéobrado Verbum, a realidade temporal tem sua verdade própria, suas leis próprias, naturais, descartando o clericalismo (14) . EstaémesmoadoutrinaoficialdaIgreja,querejeitadefinitivamentetantooclericalismoquantoolaicismoquepretendeafastarDeusdarealidadesocial. Assim,namesmapassagem(4,36)emqueaLumenGentium((15))afirma:"nenhumaatividadehumanapodesersubtraídaaodomíniodeDeus",ajunta:"é precisoreconhecerqueacidadeterrena,aquemsãoconfiadososcuidadostemporais,seregeporprincípiospróprios".EaGaudiumetSpes(1,3,36):"Sepor autonomiadasrealidadesterrestresentendemosqueascoisascriadaseasmesmassociedadesgozamdeleisevalorespróprios,aseremconhecidos,usadose ordenadosgradativamentepelohomem,éabsolutamentenecessárioexigi-la.Istonãoésóreivindicadopeloshomensdenossotempo,masestátambémde acordocomavontadedoCriador.Pelaprópriacondiçãodacriação,todasascoisassãodotadasdefundamentopróprio,verdade,bondade,leiseordem específicas. O homem deve respeitar tudo isto, reconhecendo os métodos próprios de cada ciência e arte" (16) . Emextremosentidocontrário,umAyyatulahKhomeini(17)pôdeafirmar:"Costuma-sedizerqueareligiãodeveserseparadadapolíticaequeas autoridadesreligiosasnãosedevemimiscuirnosassuntosdeEstado.(...)Taisafirmaçõessóemanamdosateus:sãoditadaseespalhadaspelosimperialistas. ApolíticaestavaseparadadareligiãonotempodoProfeta?(QueDeusoabençoe,aEleeaosseusfiéis)"(p.27)."OIslamtempreceitosparatudooquediz respeitoaohomemeàsociedade.EssespreceitosprocedemdoTodo-PoderosoesãotransmitidospeloseuProfetaeMensageiro.(...)Nãoexisteassuntosobre oqualoIslamnãohajaemitidoseujuízo"(p.19)."Ainstauraçãodeumaordempolíticasecularequivaleaentravaroprogressodaordemislâmica.Todopoder secular,sejaqualforaformapelaqualsemanifesta,éforçosamenteumpoderateu,obradeSatanás.Énossodeverexterminá-loecombaterseusefeitos.(...) Nãotemosoutrasoluçãosenãoderrubartodososgovernosquenãorepousamnospurosprincípiosislâmicos,sendo,portanto,corruptosecorruptores(...)É esse o dever, não só dos iranianos, mas de todos os muçulmanos do mundo." (p. 23) OIslam,aocontráriodocristianismo,afirmaumaabsolutatranscendênciadeDeus(transcendênciaacentuadapeladoutrinamu'atazilita)eumarevelação ditada(18),"descida"(emárabe,overbonazala,queseaplicaàrevelaçãodivina,significatambém"descer").ArevelaçãodeAllahesuatawhidestão sinalizadas (19) no mundo. E o princípio da unidade não se aplica só à política, mas alcança também as ciências. Emprimeirolugar,asciênciasestãoaserviçodafé(20),tambémdeummodoprático:umasociedadesobaforteeurgentenecessidadedeobedeceràlei doAltíssimo,precisaoperacionalizarassoluçõesdosgravesproblemasdepartilha.AÁlgebrasurgecomoumaciênciavoltadaparaaresoluçãodesse problemasuscitadopeloAlcorão(21).Cabe,nessesentido,umasimples-porém,sugestiva-observação:aÁlgebradeAl-Khwarizmiéinteiramenteretóricae nãoempregasimbolos.Note-sequeosnúmerossimplessãodesignadospordirham,queéumaunidademonetária;aincógnitaédesignadapelapalavra árabe xay', coisa, e, se é de ordem quadrada, mal (riqueza, bens, fortuna). Alémdisso,deummodointrínseco:"oprincípiodatawhid,opontocapitaldaexperiênciaislâmicadeDeus,excluiaseparaçãoentreciênciaefé.Tudo,na natureza,sendo'sinal'dapresençadivina,oconhecimentodanaturezatorna-se(...)umacessoàproximidadedeDeus.(...)Asabedoriadaféintegratodasas ciênciasnumconjuntoorgânico,poistodastêmumobjetivonomundoque,emsuatotalidade,éuma'teofania',umarevelaçãodos'sinaisdeDeus'.Ouniverso é um 'ícone' no qual o Um se revela através do múltiplo por mil símbolos" (22). Nessesentido,umimportanteinstrumentodeligaçãoentreasciênciaséprecisamenteaÁlgebra.Referindo-seàépocaemquesurgeaÁlgebradeAl-Khwarizmi,RoshdiRasheddiz:"OcomeçodoséculoIXéumgrandemomentodeexpansãodamatemáticahelenísticaemlínguaárabe.Ora,éprecisamente nesseperíodoenessemeio(oda"CasadaSabedoria"deBagdad)queMuhammadIbnMusaal-Khwarizmiredigeumlivrocomassuntoeestilonovos.Defato, énessaspáginasquesurge,pelaprimeiravez,aÁlgebracomodisciplinamatemáticadistintaeindependente.Talsurgimento-ejáoscontemporâneosse apercebemdisso-foideimportânciacrucial,tantopeloestilodessamatemática,comopelaontologiadeseuobjeto(grifonosso)e,maisainda,pelariquezade possibilidadesquecomelaseabrem.Oestiloé,aomesmotempo,algorítmicoedemonstrativoe,comessaálgebra,imediatamentejásedeixaentrevera imensa potencialidade que impregnará a Matemática a partir do séc. IX: a aplicação das disciplinas matemáticas umas às outras" (23) . 4. A Álgebra no sistema língua/pensamento árabe.Nestetópicoresumiremosalgumascaracterísticasdosistemalíngua/pensamento,nosentidoqueessaexpressãotememLohmann(24)easrelaçõesentre seusdoispólos:línguaepensamento.Essaanálisepermitir-nos-áumamelhorcompreensãodeaspectosdaÁlgebracomociênciaárabeedesuaevolução(em contraposição à Geometria, ciência grega). Umaprimeiraobservaçãosobreasrelaçõesentrelínguaeformadepensamentoéadeque"oquenosinteressanãosãoaslínguasemsi,masaslínguas enquantopré-determinamumacertaconcepçãodemundoparaofalante,oucomodizHeidegger,eineErschlossenheitdesDaseins"(25).Emoutraspalavras, oalcancedopensamentocondiciona-sepelalinguagem.Nãosópelomaioroumenornúmeroeprofundidadedeconceitosepotencialexpressivodos vocábulos, mas também (e principalmente) pelas estruturas peculiares de cada língua ou famílias de línguas. Assim,cabefalarnumsistemalíngua/pensamento,que,nocasodogrego,éjustamentedesignadoporlogose,nocasodoárabe,porma'na."Oconceitode ma'na,'intencionalidade'(26),étãocaracterísticodaformaárabedepensamento,comooéanoçãoespecíficadotermogregologos,emsuaconcepção original,paraaformadepensamentodogregoclássico.E,alémdomais,justamenteporessasduasnoções,ou,porassimdizer,sobosauspíciosdessasduas noções,équeessasduasformasdepensamento,encarnadas,cadaumaemumalínguadeterminada-ogregoclássicoeoárabeclássico-exprimiram-se como tais em uma filosofia" (27) . E, poderíamos complementar: exprimiram-se também em Álgebra e Geometria. Poisosistemagrego,logos,buscaestabelecerumaexatacorrespondênciaentrepensamentoerealidade.Correspondênciabiunívocajáprogramaticamente estabelecidaporParmênidesquandoafirma:Tògàrautonoeinestintekaìeinai("Naverdade,pensareseré,aomesmotempo,amesmacoisa").Talpretensão de pensamento é possibilitada por diversos fatos de linguagem. Destacaremos dois para efeito de contraste com o árabe. 1)Aocontráriodoárabe,nocentrosemânticodosistemagrego,"encontra-seoverboesti(ser),que,segundoAristóteles,estáimplicitamentecontidoem qualqueroutroverbo"(28).Overboser,característicacentraldosistemalogos(edetodooindo-europeu),permitiriaoenlaceexatoentrearealidadeemsi mesma e o pensamento: pelo verbo ser o pensamento homo-loga o real. Umexemploajudar-nos-áacompreenderessarelação.Sejaocasodeespecialistasemsegurançacontraincêndioquehomologamumdeterminado edifício.Elesdispõemdeumlogos,umcorpodenormastécnicasracionalmenteestabelecidase,inspecionandoumprédio,verificamsearealidade(apresença detantosextintoresdeincêndio,taisetaismangueiras,portascorta-fogo,saídasdeemergênciaetc.)daqueleedifícioestánomesmologos(homo-logação)da norma. Do mesmo modo, para o sistema grego, o pensamento está em homologia com a realidade. 2)Alínguagregaflexionatemas(enquantoaárabeflexionaaprópriaraizdeumapalavra).Noexemplotradicionaldasgramáticaselementaresdelatim(e, obviamente,omesmosedácomogrego),oradicalrosderosapermanecefixo,poisumarosaéumarosa;qualqueroutrofator(seurelacionamentocomo mundoexterior,comopensamentohumanooucomqualidadesquesãonela):dacordarosa(genitivo)aomosquitonelapousado(ablativo),érefletidopelas desinênciasrosam,rosarum,rosaeetc.Oárabe,porsuavez,nãotemradicaisfixos:oradicaltrilítereéintra-flexionado:SaLaM;iSLaM;SaLyM;muSLiMetc. (correspondenteàousía,àsubstantia).Lohmanninterpretaestefatodoseguintemodo:"Oárabe,comoosemíticoemgeral,deumlado,eogrego,deoutro, estabelecemrelaçõescomomundo:um,principalmentepeloouvidoeooutro,peloolho.Talfatolevouofalantesemíticoaumapreponderânciadareligião, enquantoogregotornou-seoinventordateoria.Daídecorre(ouprocede...?)umadiferençaanálogadasrespectivaslínguas,quantoaseutipodeexpressão. Cadaumdessesdoistiposcaracteriza-seporumprocedimentogramaticalespecífico:flexãoderaízesnosemíticoeflexãodetemasnoindo-europeuantigo" (29) . Aomnipresençadoverbosereaflexãodetemas,comoagudamenteindicaLohmann,favorecemumsistemalogos("ocular","especular")de correspondência exata entre pensamento e realidade que, como veremos, é característica também da Geometria grega. Jáoárabetendeaosistemama'na-pensamento"auricular","pensamentoconfundente"(30)-pelaausênciadaamarradoverbosercomoverbode ligação, pela indeterminação semântica de seus radicais trilíteres etc. Configura-se, assim, uma despretensão de atingir a ousía, a substantia. Talposicionamentoéconfirmadopelareligiãoe,particularmente,peladoutrinamu'atazilita,queéopensamentoteológicoimpostooficialmentepelocalifa Al-Ma'amunemBagdad,àépocadeAl-Khwarizmi.Pode-seaplicaràÁlgebraasconsideraçõesdeLohmannsobreas"distorções"narecepçãodafilosofiagrega pelosárabese,principalmente,porAverróes:"(Umaspecto)quesedeveconhecerparasecompreenderaintençãodoComentador(subjacenteàsua interpretaçãodeAristóteles)éanoçãodeessentia(comotraduçãodapalavraárabedhat).Dhat-conceitoprofundamentearraigadonoaristotelismoárabe naespeculaçãoteológicaislâmicadoséculoIXdanossaera,emBagdad-éaessênciadeDeus,emoposiçãoaosatributos,porcujamediação,fala-sedeDeus noAlcorão.AessênciadeDeus,segundoadoutrinamu'tazilita-teologiaoficialdeBagdadnaprimeirametadedoséculoIX-éabsolutamentetranscendente emoposiçãoaessesatributos.EssatranscendênciaabsolutadeDeus-expressapelanoçãodhatetraduzidaemlatimporessentia-,emoposiçãoatodasas noçõesdescritivas(sifat,emárabe),transformou-seemS.Tomás(e,decertamaneira,jánoComentador,consideradoumaautoridadeporS.Tomás)emuma transcendência da coisa real com relação ao intelecto humano - transcendência que conduziu, em seguida e enfim, ao Ding an sich de Kant". Junte-seaestasconsiderações,ocritério-certamentenãocasual-daseleçãodefontesdeAl-Khwarizmi.SolomonGandz,omodernoeditordeAl-Khwarizmi,consideraessencial,nofundadordaÁlgebra,seucaráteroriental,não-gregoemesmoanti-grego.Valeapenatranscreversuaintroduçãoao capítulo "Mensuração" do Kitab: 5. Al-Khwarizmi, o antagonista da influência gregaNauniversidadedeBagdad,fundadaporAl-Ma'amun(813-33),achamadaBaytal-Hikma,ondeAl-KhwarizmitrabalhousobopatrocíniodoCalifa, floresceutambémumvelhocolegaseu,chamadoAl-HajjajibnYusufibnMatar.Estehomemeraolíderdacorrenteafavordarecepçãodaciênciagregapelos árabes.Dedicoutodasuavidaatraduzirparaoárabeasobrasgregas.JánocalifatodeHarunal-Rashid(786-809),Al-HajjajtinhatraduzidoOsElementosde Euclides.QuandoAl-Ma'amuntornou-secalifa,Al-HajjajtentouobterseufavorparaumasegundaediçãodesuatraduçãodeEuclides.Posteriormente(829-830),traduziuoAlmagesto.Ora,Al-Khwarizminuncamencionaseucoleganemtampoucosuasobras.EuclidesesuaGeometria,emboradisponíveispelaboa traduçãodocolega,sãototalmenteignoradosporAl-Khwarizmi,quandoeleescrevesobreGeometria.Emais,no"Prefácio"desuaÁlgebra,Al-Khwarizmi claramenteenfatizaseuobjetivodeescreverumtratadopopularque,aocontráriodamatemáticateóricagrega,sirvaafinspráticosdopovoemseusnegócios deherançaselegados,emseusassuntosjurídicos,comerciais,deexploraçãodaterraedeescavaçãodecanais.Al-Khwarizmiaparecenãocomoumdiscípulo dosgregos,masmuitopelocontrário,comooadversáriodeAl-Hajjajedaescolagrega.Eleéorepresentantedasciênciaspopularesnativas.NaAcademiade Bagdad,Al-Khwarizmirepresenta,antes,umareaçãocontráriaàintroduçãodamatemáticagrega.SuaÁlgebracausaumaimpressãodeprotestocontraa tradução de Euclides e contra toda a tendência de acolhimento das ciências gregas (31). 6. Árabe x Grego: os conceitos de razão e proporção A geometria grega é o modelo acabado do sistema grego (32) , de uma "língua de visão", em correspondência, tanto quanto possível, bijetora com o real. Esse"tantoquantopossível"impõeseuslimites:namatemáticagrega,nãoencontraremosonúmerozero(ozeronãotemcorrespondente-logoscomoreal) eéconhecidooescândalohistóricoproduzidopeladescobertadaincomensurabilidadedegrandezas(onúmeroirracional,paraosgregosa-logos!,entraem contradiçãocomoprópriosistemadepensamentogrego).E,deummodopositivo,Euclides(33)afirmaqueouméarealidadeeaunidadeéaquilopeloque cada uma das coisas que são é chamada de um! Jáoárabeédiferente.Seusistemalíngua/pensamentonãoélogos,masma'na:prevalecenãoapretensãodealinguagemacompanharparipassuoente, masosentidomental(intentio,ma'na),independentementedacorrespondência-logoscomoreal.Daíqueaciênciaárabe,porexcelência,sejaaÁlgebra(com zero e números negativos). E o irracional, na incomensurabilidade geométrica, é aceito com total naturalidade pelo árabe. Descreveremosnestetópico,sucintamente,asuperaçãodosistemalogosnocasoparadigmáticodaconceituaçãomatemáticaderazãoeproporção(34). Essa superação tem um importante marco inicial no matemático e poeta Omar Khayyam (35) , que abre caminho para os números irracionais. ParaanalisarosconceitosderazãoeproporçãonosElementos,comecemospelaobservaçãodeHeath:"Édignodenota,ofatodequeateoriadas proporções recebe duplo tratamento em Euclides: refere-se a grandezas em geral, no livro V, e só ao caso particular de números, no livro VII" (36) . ParaHeath,Euclidesteriaseguidoatradição:reproduzindoaantigateoriadeproporções(anterioràcrisedosincomensuráveis)etambémanova, atribuídaaEudoxo(adolivroV).Estadefinição(V,def.5)reza:"Diz-sequemagnitudesestãonamesmarazão-aprimeiraparaasegundaeaterceiraparaa quarta-quando:paraquaisquerequimúltiplosquesejamtomadosdaprimeiraedaterceiracomparadosaquaisquerequimúltiplosquesejamtomadosda segundaedaquarta,osprimeirosequimúltiploscoincidememsuperar(igualarouinferar)ossegundosequimúltiplosrespectivamentetomadosnaordem correspondente". Vuilleminobservaqueestateoriapermiteeludiroproblemadosirracionais(37).Subtrai-seoconceitoderazãoaoâmbitodamedida(eevita,portanto,o escândalodosincomensuráveis).EéprecisamenteessadefiniçãoderazãoqueseráobjetodecríticaporpartedeOmarKhayyam:paraele,Euclidesnãoteria atinado com o verdadeiro significado de razão, que se encontra no processo de medida de uma grandeza por outra (38) . Assim, Omar Khayyam define A:B = C:DTodososmúltiplosdaprimeirasãoretiradosdasegunda,atéquesetenhaumresto(R)menordoqueaprimeirae,igualmente,todososmúltiplosda terceirasãoretiradosdaquarta,atéquesetenhaumresto(R)menordoqueaterceira.Eonúmerodemúltiplosdaprimeiranasegundaéigualaonúmero demúltiplosdaterceiranaquarta.Emais:extraímosdaprimeira,todososmúltiplosdorestodasegunda,atéobterumnovoresto(R)menorqueorestoda segundaeigualmente,extraímosdaterceira,todososmúltiplosdorestodaquarta,atéobterumnovorestomenorqueorestodaquarta.Eonúmerode múltiplosdorestodasegundaéigualaonúmerodemúltiplosdorestodaquarta.Etc.E,assim,adinfinitum.Então,arazãoentreaprimeiraeasegundaé necessariamente a que se dá entre a terceira e a quarta. Esta é que é a verdadeira proporcionalidade a modo geométrico (39) Esteprocesso-jámencionadoporAristóteles-éoqueosgregoschamamdeantanairesisouantiphayresis.Aquantidademenor,digamosB,ésubtraídade A, com resto R1. E assim, R1 = A - q1B.A seguir, R1 é subtraído - tanto quanto possível - de B: R2 = B - q2R1E assim por diante... Apósafirmaraexcelênciadaantiphayresis,OmarKhayyamlevantaaquestãodecisivaparaoestabelecimentodosnúmerosirracionais:searazãodeveser entendida como um tipo de número. Desprendidosdocompromissogregodecorrespondênciapensamento/realidade,autoresárabescomoNasirad-Dinat-Tusinãoverãoinconvenienteem considerar todas as razões (e os limites das antiphayresis) como números. Um tal acolhimento só é possível no sistema ma'na... Referências(1).Paraoepisódiodo"horroraovácuo",verPieper,Josef"AtesedePascal:TeologiaeFísica-umaintroduçãoaoPréfacepourletraitéduvide"Cuadernosde Cultura y Ciencia, Madrid - S. Paulo, Univ. Autónoma de Madrid/ DloFflchusp, 1996, N. 2, pp.29 e ss. (2).Aolongodestetrabalho,estaremosnosreferindoprincipalmenteaoscasosparadigmáticosdeOsElementosdeEuclidesedaÁlgebra,talcomofundada por Al-Khwarizmi. (3).Umaanálisedessesfatorescondicionantesdaarteárabeencontra-seemHanania,AidaR.ACaligrafiacomoExpressãoCultural-AArtedeHassan Massoudy, tese de Livre-Docência, FFLCH-USP, 1995. (4) . Anawati, M-M e Gardet, Louis Introduction a la Théologie Musulmane, Paris, Vrin, 1981, p. 44. (5) . Não é de todo alheio a nosso tema, o fato de que esse califa fez de uma particular doutrina, a mu'atazilita, a teologia oficial do Império. (6).E,comoindicaremos,nãosãocasuaisasdefiniçõeseuclidianasderazãoeproporção(eoslimitesimpostosaessesconceitosnosElementos)nem tampouco a reação dos matemáticos árabes a essas definições. (7).Comosesabe,oradicalconsonantalé,emárabe,oqueésemanticamentedecisivo:asvogais,aprefixaçãoetc.sófazemumadeterminaçãoperiféricade sentido. (8) . Kline, Morris Mathematical Thought from Ancient to Modern Times, New York, Oxford University Press, 1972, p. 192. (9) . Cfr. por exemplo Nimer, Michel Influências Orientais na Língua Portuguesa, São Paulo, s.c.p., 1943, vol. I, verbete Álgebra. (10) . In Quatre conférences publiques organisées par l'Unesco, UNESCO, 1981, p. 152. (11) . Garaudy, Roger Promessas do Islam, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1988, p. 70. (12).EmboraGaraudy,acostumado-porseupassadomarxista-àdistinçãoentresocialismoideale"socialismorealmenteexistente",umaeoutravezrecorra à "distinção entre o ensino corânico e a prática dos países muçulmanos..." (p. 70). (13) . E se só há filhas... (14) . Tratamos mais amplamente do tema em Tomás de Aquino hoje, Curitiba-S. Paulo, PUC-PR - GRD, 1993. (15) . Sugestivamente no capítulo IV, dedicado aos leigos - a cuja iniciativa e responsabilidade de cristãos compete a santificação da ordem temporal. (16) . Cfr. também Apostolicam Actuositatem (II, 7). (17) . Em seus Princípios políticos, filosóficos, sociais e religiosos, Rio de Janeiro, Record, 1980. (18) . E não meramente inspirada ao hagiógrafo, como no cristianismo. (19) . Ayyat significa não só sinal, mas também versículo do Alcorão. (20)."Deus,emsuamisericórdiainfinita,confiouoAlcorãoaSeuprofeta,paraqueohomempossadecifraranaturezae,destaforma,transcendê-la.Oestudo doAlcorãoéumainiciaçãoaoestudodanatureza.OestudodanaturezaéumaprocuradeDeus.OsfenômenosnaturaissãocifrasquesignificamDeus.O Alcorãoforneceostestesdeverificaçãoparaosesforçosdecifradoresdapesquisadanatureza.OhomempodecompararanaturezaaoAlcorão,porquesua menteparticipadoespíritodivino.AorigemdivinadamentehumanaévivenciadajustamenteporsuacapacidadedeadequaçãodoAlcorãoànatureza.Por suacapacidadealgébricaedecifradora,amentehumanatemaestruturadamentedivina"(FLUSSER,V."Amesquitaeaescrita",RevistadeEstudosÁrabes, DLO-FFLCHUSP, v. 1, n. 2, 1993, p. 33. (21).Esteéumfatotãonotório,queédestacadoportodososhistoriadoresdamatemáticaárabe.Citaremosaquiapenastrêsdosmaisconhecidos:Yousch-kewitch,A.P.Lesmathématiquesarabes,Paris,Vrin-CNRS,1976.Dalmedico,A.-Peiffer,J.Unehistoiredesmathématiques,Paris,Seuil,1988.Waerden,B.L.van derAHistoryofAlgebra,NewYork,SpringerVerlag,1985.Note-sequeprecisamenteapartesobreproblemaspráticosdeherança,aparteIIIdoKitab...,que ocupamaisdametadedolivrodeAl-Khwarizmi,éomitidanastraduçõeslatinasdeRobertodeChester-feitaemSegóviaem1145-edeGerardodeCremona- falecido em 1187 -, em Toledo. (22) . Garaudy, op. cit. pp. 81, 84-85. (23) . "Modernidade Clássica e Ciência Árabe", Revista de Estudos Árabes, DLO-FFLCHUSP, v. 1, n. 1, 1993, p. 9. (24).Lohmann,Johannes"SantoTomáseosÁrabes-Estruturaslingüísticaseformasdepensamento"RevistadeEstudosÁrabes,CentrodeEstudos Árabes/FFLCHUSP,SãoPaulo,AnoIII,n.5-6,pp.33-51.Tit.orig.:"SaintThomasetlesArabes(Structureslinguistiquesetformesdepensée)",Revue Philosophique de Louvain, t. 74, fév. 1976, pp. 30-44. Trad.: Ana L. Carvalho Fujikura e Helena Meidani. (25).Art.cit.p.38.MesmoreconhecendoumacertaradicalizaçãonaposiçãodeLohmann,nãorestadúvidadequehá-senãoumadeterminação-pelo menosumfortecondicionamentodopensamentopelasestruturasdalíngua.Talvezfossemelhorfalareminteraçãodialética,namedidaemquetambémo pensamento influencia a formação da língua. (26) . No sentido técnico-filosófico de intentio, apresentado por Lohmann. (27) . Art. cit. p. 35-36. (28) . Art. cit. p. 35. (29) . Art. cit., p. 36. (30) . No sentido "técnico" que Ortega y Gasset e Julian Marías dão à expressão. (31) . Cit. por Waerden, B. L. op. cit., pp. 14-15. (32).Jáageometriacontemporânea,ligadaàmodernaconcepçãodesistemasaxiomáticos,aproximar-se-iadeumaoutraformadepensamento(derivadado sistema logos, mas já independente) - também discutida por Lohmann no artigo citado -, paradigmatizado pelo inglês falado nos dias de hoje. (33).LivroVII,def.1.Citaremospelaed.deHEATH,ThomasL.TheThirteenbooksofEuclid'sElements,translatedfromthetextofHeibergwithIntr.andComm. New York, Dover, 2nd. ed., s.d., vol. I-III. (34).Paraumestudodarecepçãodoconceitoeuclidianoderazãoentreosárabes,veja-sePlooij,E.B.Al-Djajjâni-CommentaryonRatioinEuclid'sconception of Ratio as criticized by arabian commentators, Rotterdam, Uitgeuerij W.J. van Hengel, 1950. (35).OmarKhayyamestátãodistantedoidealgregodehomologaçãodorealetãoimersonosamthaldosistemama'na,quenumadasRubayyat-ade númeroXCIV(citopelaediçãoLesQuatrainsd'OmarKhayyam,trad.intr.etnotesdeCharlesGrolleau,Paris,ChampLibre,1980-chegaaescrever:"Parafalar claramenteesemparábolas:/Nóssomosaspeçasdojogo,jogadopeloCéu/Quebrincaconosconotabuleirodaexistência/Edepoisvoltamos,umaum, para a caixa do Nada". (36) . Op. cit. v. II, p. 113. (37) . Vuillemin, J. De la Logique a la Théologie, Paris, Flammarion, 1967, pp. 12 e ss. (38).ComoobservaDirkJ.Struikem"OmarKhayyamMathematician"TheMathematicsTeacher,April1958:"Omarishereontheroadtotheextensionofthe number concept which leads to the notion of the real number". (39) . Omar Khayyam cit. por Werden, B. L. v. der A History of Algebra - From al-Khwarizmi to Emmi Noether, N. York, Springer Verlag, 1985, p. 30.
CiênciaeWeltanschauung-aÁlgebracomo Ciência Árabe.L. Jean Lauand Universidade de São Paulojeanlaua@usp.brOriginalmente,conferênciaproferidaem14-4-98na UniversidadAutónomadeMadrid-Depto.deEstudios Árabes e Islámicos. 1. A Ciência e seu contexto cultural Nesteestudo,analisaremosaÁlgebracomociência árabe.Comecemosporanteciparalgunstópicosde discussãosobrequesignificadopodeterfalaremciência destaoudaquelanaçãooucultura-paraalémdomero fatodeindicaroestágiodedesenvolvimentooua produçãodoscientistasdeumanacionalidade,como quandosediz:"aFísicarussaestábastanteadiantadaeé detentoradediversosPrêmiosNobel"ou"sóaMedicina americana consegue fazer esse tipo de transplante" etc. Ordinariamentetendemosapensarqueo conhecimentocientíficoindependedelatitudeseculturas: umafórmulaquímicaouumteoremadeGeometriasãoos mesmosemlatimouemchinêse,sendoacomunicaçãoo únicoproblema-assimsepensa,àprimeiravista-, bastariaumaboatraduçãodostermosprópriosdecada disciplinaetudoestariaresolvido.Naverdade,sabemos queascoisasnãosãotãosimplesenãoéprecisomuito esforçoparalembrarqueaevoluçãodaciênciaestá repletadeinterferênciashistórico-culturais,condicionando osurgimentodeumadisciplina,oreconhecimentodeum resultado ou a adoção de um procedimento científico... Éconhecido,porexemplo,ofatodequeespíritostão inovadorescomoGalileuouDescartesapegaram-seao "dogmacientífico"dohorroraovácuo(1);sóPascal-na mesmaépocaeapósmuitarelutância-superouesseerro. Descartes,emseuPrincípiosdaFilosofia-mesmotratado quecomeçaafirmandosernecessárioduvidar radicalmentedetudooquepossaapresentaramais ínfimaincerteza-,tomacomoumaintuiçãoirrefutávelda razãoaidéiatradicionaldequeanaturezatemhorrorao vácuo... Essescondicionamentossãodediversasordens.Assim, aodizerqueaGeometria(geo-metria,emgrego)éuma ciênciagregaouqueaÁlgebra(al-jabr)éumaciência árabe(2),estamosafirmandoalgomaisdoquea "casualidade"deteremsidogregosouárabesseus fundadores ou promotores. Aproximamo-nosdosentidodaexpressão"ciência árabe"quandopensamosemcasosparalelos.Diz-se,por exemplo,queacaligrafiaéuma"arteárabe",masnãose dizqueapinturaouoteatrosejam"artesárabes".Nesses casos,nãoestamosaquiinteressadosnofatodehaver muitosetalentososcalígrafosárabes(ounoda correspondenteescassezdepintores),masnuma"conexão desentido"entreaartecaligráficaefatorescomo:a atitudeárabeperanteaescrita(esuarelação,digamos, comomodocomooAlcorãoconsideraosayyat,ossinais deDeus);adesconfiançasemitaemrelaçãoàimagem;a língua e a religião; etc. (3). NocasodaÁlgebra,nãofoipormeroacasoqueela surgiunocalifatoabássida("aocontráriodosOmíadas,os Abássidaspretendemaplicarrigorosamentealeireligiosaà vidaquotidiana"(4)),noseioda"CasadaSabedoria"(Bayt al-Hikma)deBagdad,promovidapelocalifaAl-Ma'amun(5) ,umaciêncianascidaemlínguaárabeecriadaporAl-Khwarizmi,pioneirodaciênciaárabee"antagonistada ciência grega" (6). Certamente,oqueamodernamatemáticaentendepor Álgebrapodeparecerumafriaeobjetivaaxiomática- constitutivadeumasintaxedeestruturasoperatóriase destituídadequalqueralcancesemântico-,masessa Álgebradehojeéoresultadodaevolução-em desenvolvimentocontínuo-davelhaal-jabr,forjadapor umcontextoculturalemquenãosãoalheios,elementos quevãodesdeasestruturasgramaticaisdoárabeà teologia muçulmana da época... 2. Al-jabr e al-muqabalahMuhammadIbnMusaAl-Khwarizmifoimembroda "CasadaSabedoria",aimportanteacademiacientíficade Bagdad,quealcançouseuesplendorsobAl-Ma'amun (califade813a833).Aele,Al-KhwarizmidedicouseuAl-Kitabal-muhta-sarfyhisabal-jabrwaal-muqabalah("Livro breveparaocálculodajabredamuqabalah"),olivro fundador da Álgebra. Comecemosporobservarqueaspalavrasque nomeiamanovaciência,al-jabreal-muqabalah,embora empregadasporAl-Khwarizmiemsentidotécnico,eram(e aindasão)termosdalinguagemcorrenteárabe.Oradical trilítere j-b-r (7) está associado aos seguintes significados: Força:porexemplo,oanjoGabriel,Jibryl,é,literalmente, força-de-Deus.NoAlcorão(59,23),Al-Jabar-oforte,oque faz valer sua vontade - é um dos 99 nomes de Deus. Forçaquecompele,queobriga:nestesentido,oAlcorão diversasvezes(11,59;14,15;28,19;40,35;etc.)emprega j-b-rpara"tiranizar","tirano"etc..Nãoporacaso,a correnteteológicamuçulmanaquenegaolivre-arbítriodo homememfavordeuminevitáveldestinopré-determinado foidenominadajabariyah.Etambémoserviçomilitar compulsório é ijbary... Restabelecer:pôr(ourepor)algoemseudevidolugar, restabelecerumanormalidade.Daíquetajbirseja ortopediaejibarah,redução,nosentidomédico: reconduzir(talvezforçando-oportala,gessoetc.)oossoa seudevidolugar:naEspanha,notempoemqueos barbeirosacumulavamfunções,podia-severaplaca "AlgebristaySangrador"embarbearias(8)."Álgebra"no sentidode"ortopedia"vigorou,pormuitotempo,também na língua portuguesa (9).PorqueAl-Khwarizmiescolheapalavrajabrparao procedimentofundamentaldesuanovaciência? Precisamenteporque-analogamenteàortopedia-a Álgebraé"forçarcadatermoaocuparseudevidolugar".Já nocomeçodeseuKitab,Al-Khwarizmidistingueseisformas deequação,àsquaistodaequaçãodadapodeser reduzida(e,portanto,canonicamenteresolvida).Em notação de hoje: Al-jabréaoperaçãoquesomaummesmofator (afetadodosinal+)aambososmembrosdeumaequação para eliminar um fator afetado com o sinal - . Jáaoperaçãoqueeliminatermosiguaisou semelhantesdeambososladosdaequaçãoéal-muqabalah(que,porsuavez,derivadoradicalq-b-l,cujo significadoé:estarfrenteafrente-daíaqiblahna mesquitaindicaradireçãodeMeca-;caraacara-daí tambémqueqabilasejatambémbeijar-;confrontar; equiparar -"toma lá, dá cá" - etc.). Seja,então,umproblemaemqueosdadospodemser postos sob a forma: Al-Khwarizmi procede do seguinte modo: Divide por 2 e reduz os termos semelhantes: E o problema já está canonicamente equacionado. Feitaestadigressãotécnica,passemosaanalisar(em algunscasosnãoserápossívelsuperarameraalusão indicativa...)asrelaçõeseconexõesdesentidoquesedão entre a Álgebra e alguns aspectos da cultura árabe. 3. A Álgebra no Islam: o religioso e o temporalComecemospelosfundamentosdasnecessidades práticas da sociedade. Emseuestudo"L'Islametl'épanouissementdessciences exactes"(10),RoshdiRashed,paramostraraconexão entreAlcorão,ciênciaevidaprática,exemplifica precisamentecomaÁlgebra:'ilmal-fara'id(ciênciada partilha,daherança).Osprópriosjuristasreferem-seà Álgebracomohisabal-fara'id,ocálculodaherança, segundoaleicorânica.Eaítemosjáumprimeiro condicionamentohistórico-cultural,própriodoIslam,no qualocasodaherançaéemblemático.Trata-sedasólida uniãoquesedánoIslamentreaordemreligiosaea temporal. Porcoincidência,omesmoproblemadaherança(para omuçulmano,sobalegislaçãodiretadeAllah)éproposto aCristo.Cristo,quedeclara-algoimpensávelnavisão muçulmana-"ACésaroqueédeCésar;aDeusoqueéde Deus",recusa-seaestabelecerconcretamenteostermosda herança. Trata-sedeumepisódioevangélicoaparentemente intranscendente:"umdamultidão"aproxima-sedeCristoe fazumpedido:queJesususeSuaautoridadepara convencerseuirmãoarepartircomeleaherança(Lc12, 13).Parasurpresadaquelehomem(econtrariandoa mentalidadeantigaeaoriental,queuniamopoder religiosoaquestõestemporais...),Cristorecusa-se terminantementeaintervirnessaquestão:"Homem,quem meestabeleceujuizouárbitrodevossapartilha?"(Lc12, 14).OmáximoaqueCristochegaéaumacondenação genéricadacobiça,contandoaessesirmãosaparábolado homemricocujoscamposhaviamproduzidoabundante frutoecomocélebreconviteàcontemplaçãodoslírios: "Olhai os lírios do campo...". Bemdiferentessãoascoisasnomundomuçulmano. RogerGaraudy,nocapítulo"FéePolítica"mostracomoa tawhid(unidade,dogmacentralislâmico)muçulmanase projetasobreapolítica,odireitoeaeconomia:"Deuséo únicoproprietárioeeleéoúnicolegislador.Taléo princípiodebasedoIslamemsuavisãodeunidade (tawhid)" (11) . GaraudytemrazãoaoafirmarquenãosedánoIslam (nãohásacerdotes),umateocraciaclericaldetipo ocidental,maséinegável,também,queavisãomuçulmana temfavorecidoumaforteearraigadateocraciaprópriae nãoporacasoochefepolíticoseintitulaayyatullah,"sinal de Deus" (12) . Sejacomofor,ofatoéque,naquestãodaherança,o Alcorão(4,11ess.)dizconcretamente:"Allahvosordenao seguintenoquedizrespeitoavossosfilhos:queaporção dovarãoequivalhaàdeduasmulheres.Seestassãomais deduas(13),corresponder-lhes-ãodoisterçosdaherança. Seéfilhaúnica,ametade.Acadaumdospais corresponderáumsextodaherança,sedeixafilhos;masse nãotemfilhoselheherdamsóospais,umsextoéparaa mãe.Etc.,etc.".Econclui:"Devossosascendentesou descendentes,nãosabeisquaisvossãoosmaisúteis.Isto compete a Allah. Allah é onisciente, sábio". Contrastemoscomocristianismo.Naturalmente,para umcristão,omundoécriaçãodeDeuseobradesua Inteligência:omundofoicriadopeloVerbume,portanto, conheceromundoéconhecersinaisdeDeus.Emais:cada criaturaéporqueécriadainteligentementeporDeus, participadoserdeDeus.ODeuscristãoéEmmanuel,Deus conosco,epelaEncarnação,aeternidadedeDeusingressa natemporalidadeeCristoencabeça,recapitula(comodizo Catecismo da Igreja Católica) toda a realidade criada. DaíqueaIgrejadefendatenazmentealeimoral,lei naturaldadignidadedoserdohomem,quelhefoi conferidapeloatocriadordoVerbum.Mas,precisamente poressamesmaconcepçãoteológica,ocristãopode afirmaramaisdecididaautonomiadasrealidades temporais:porqueomundoéobradoVerbum,arealidade temporaltemsuaverdadeprópria,suasleispróprias, naturais, descartando o clericalismo (14) . EstaémesmoadoutrinaoficialdaIgreja,querejeita definitivamentetantooclericalismoquantoolaicismoque pretendeafastarDeusdarealidadesocial.Assim,na mesmapassagem(4,36)emqueaLumenGentium((15)) afirma:"nenhumaatividadehumanapodesersubtraída aodomíniodeDeus",ajunta:"éprecisoreconhecerquea cidadeterrena,aquemsãoconfiadososcuidados temporais,seregeporprincípiospróprios".EaGaudiumet Spes(1,3,36):"Seporautonomiadasrealidadesterrestres entendemosqueascoisascriadaseasmesmassociedades gozamdeleisevalorespróprios,aseremconhecidos, usadoseordenadosgradativamentepelohomem,é absolutamentenecessárioexigi-la.Istonãoésó reivindicadopeloshomensdenossotempo,masestá tambémdeacordocomavontadedoCriador.Pelaprópria condiçãodacriação,todasascoisassãodotadasde fundamentopróprio,verdade,bondade,leiseordem específicas.Ohomemdeverespeitartudoisto, reconhecendoosmétodosprópriosdecadaciênciaearte" (16) . Emextremosentidocontrário,umAyyatulahKhomeini (17)pôdeafirmar:"Costuma-sedizerqueareligiãodeve serseparadadapolíticaequeasautoridadesreligiosas nãosedevemimiscuirnosassuntosdeEstado.(...)Tais afirmaçõessóemanamdosateus:sãoditadase espalhadaspelosimperialistas.Apolíticaestavaseparada dareligiãonotempodoProfeta?(QueDeusoabençoe,a Eleeaosseusfiéis)"(p.27)."OIslamtempreceitospara tudooquedizrespeitoaohomemeàsociedade.Esses preceitosprocedemdoTodo-Poderosoesãotransmitidos peloseuProfetaeMensageiro.(...)Nãoexisteassuntosobre oqualoIslamnãohajaemitidoseujuízo"(p.19)."A instauraçãodeumaordempolíticasecularequivalea entravaroprogressodaordemislâmica.Todopoder secular,sejaqualforaformapelaqualsemanifesta,é forçosamenteumpoderateu,obradeSatanás.Énosso deverexterminá-loecombaterseusefeitos.(...)Nãotemos outrasoluçãosenãoderrubartodososgovernosquenão repousamnospurosprincípiosislâmicos,sendo,portanto, corruptosecorruptores(...)Éesseodever,nãosódos iranianos, mas de todos os muçulmanos do mundo." (p. 23) OIslam,aocontráriodocristianismo,afirmauma absolutatranscendênciadeDeus(transcendência acentuadapeladoutrinamu'atazilita)eumarevelação ditada(18),"descida"(emárabe,overbonazala,quese aplicaàrevelaçãodivina,significatambém"descer").A revelaçãodeAllahesuatawhidestãosinalizadas(19)no mundo.Eoprincípiodaunidadenãoseaplicasóà política, mas alcança também as ciências. Emprimeirolugar,asciênciasestãoaserviçodafé(20) ,tambémdeummodoprático:umasociedadesobaforte eurgentenecessidadedeobedeceràleidoAltíssimo, precisaoperacionalizarassoluçõesdosgravesproblemas departilha.AÁlgebrasurgecomoumaciênciavoltada paraaresoluçãodesseproblemasuscitadopeloAlcorão (21).Cabe,nessesentido,umasimples-porém,sugestiva- observação:aÁlgebradeAl-Khwarizmiéinteiramente retóricaenãoempregasimbolos.Note-sequeosnúmeros simplessãodesignadospordirham,queéumaunidade monetária;aincógnitaédesignadapelapalavraárabe xay',coisa,e,seédeordemquadrada,mal(riqueza,bens, fortuna). Alémdisso,deummodointrínseco:"oprincípioda tawhid,opontocapitaldaexperiênciaislâmicadeDeus, excluiaseparaçãoentreciênciaefé.Tudo,nanatureza, sendo'sinal'dapresençadivina,oconhecimentoda naturezatorna-se(...)umacessoàproximidadedeDeus. (...)Asabedoriadaféintegratodasasciênciasnum conjuntoorgânico,poistodastêmumobjetivonomundo que,emsuatotalidade,éuma'teofania',umarevelação dos'sinaisdeDeus'.Ouniversoéum'ícone'noqualoUm se revela através do múltiplo por mil símbolos" (22). Nessesentido,umimportanteinstrumentodeligação entreasciênciaséprecisamenteaÁlgebra.Referindo-seà épocaemquesurgeaÁlgebradeAl-Khwarizmi,Roshdi Rasheddiz:"OcomeçodoséculoIXéumgrandemomento deexpansãodamatemáticahelenísticaemlínguaárabe. Ora,éprecisamentenesseperíodoenessemeio(oda "CasadaSabedoria"deBagdad)queMuhammadIbnMusa al-Khwarizmiredigeumlivrocomassuntoeestilonovos.De fato,énessaspáginasquesurge,pelaprimeiravez,a Álgebracomodisciplinamatemáticadistintae independente.Talsurgimento-ejáoscontemporâneosse apercebemdisso-foideimportânciacrucial,tantopelo estilodessamatemática,comopelaontologiadeseuobjeto (grifonosso)e,maisainda,pelariquezadepossibilidades quecomelaseabrem.Oestiloé,aomesmotempo, algorítmicoedemonstrativoe,comessaálgebra, imediatamentejásedeixaentreveraimensa potencialidadequeimpregnaráaMatemáticaapartirdo séc.IX:aaplicaçãodasdisciplinasmatemáticasumasàs outras" (23) . 4. A Álgebra no sistema língua/pensamento árabe.Nestetópicoresumiremosalgumascaracterísticasdo sistemalíngua/pensamento,nosentidoqueessaexpressão tememLohmann(24)easrelaçõesentreseusdoispólos: línguaepensamento.Essaanálisepermitir-nos-áuma melhorcompreensãodeaspectosdaÁlgebracomociência árabeedesuaevolução(emcontraposiçãoàGeometria, ciência grega). Umaprimeiraobservaçãosobreasrelaçõesentre línguaeformadepensamentoéadeque"oquenos interessanãosãoaslínguasemsi,masaslínguas enquantopré-determinamumacertaconcepçãodemundo paraofalante,oucomodizHeidegger,eineErschlossenheit desDaseins"(25).Emoutraspalavras,oalcancedo pensamentocondiciona-sepelalinguagem.Nãosópelo maioroumenornúmeroeprofundidadedeconceitose potencialexpressivodosvocábulos,mastambém(e principalmente)pelasestruturaspeculiaresdecadalíngua ou famílias de línguas. Assim,cabefalarnumsistemalíngua/pensamento,que, nocasodogrego,éjustamentedesignadoporlogose,no casodoárabe,porma'na."Oconceitodema'na, 'intencionalidade'(26),étãocaracterísticodaformaárabe depensamento,comooéanoçãoespecíficadotermo gregologos,emsuaconcepçãooriginal,paraaformade pensamentodogregoclássico.E,alémdomais,justamente poressasduasnoções,ou,porassimdizer,sobos auspíciosdessasduasnoções,équeessasduasformasde pensamento,encarnadas,cadaumaemumalíngua determinada-ogregoclássicoeoárabeclássico- exprimiram-se como tais em uma filosofia" (27) . E,poderíamoscomplementar:exprimiram-setambém em Álgebra e Geometria. Poisosistemagrego,logos,buscaestabeleceruma exatacorrespondênciaentrepensamentoerealidade. Correspondênciabiunívocajáprogramaticamente estabelecidaporParmênidesquandoafirma:Tògàrauto noeinestintekaìeinai("Naverdade,pensareseré,ao mesmotempo,amesmacoisa").Talpretensãode pensamentoépossibilitadapordiversosfatosde linguagem.Destacaremosdoisparaefeitodecontrastecom o árabe. 1)Aocontráriodoárabe,nocentrosemânticodosistema grego,"encontra-seoverboesti(ser),que,segundo Aristóteles,estáimplicitamentecontidoemqualqueroutro verbo"(28).Overboser,característicacentraldosistema logos(edetodooindo-europeu),permitiriaoenlaceexato entrearealidadeemsimesmaeopensamento:peloverbo ser o pensamento homo-loga o real. Umexemploajudar-nos-áacompreenderessarelação. Sejaocasodeespecialistasemsegurançacontraincêndio quehomologamumdeterminadoedifício.Elesdispõemde umlogos,umcorpodenormastécnicasracionalmente estabelecidase,inspecionandoumprédio,verificamsea realidade(apresençadetantosextintoresdeincêndio,tais etaismangueiras,portascorta-fogo,saídasdeemergência etc.)daqueleedifícioestánomesmologos(homo-logação) danorma.Domesmomodo,paraosistemagrego,o pensamento está em homologia com a realidade. 2)Alínguagregaflexionatemas(enquantoaárabeflexiona aprópriaraizdeumapalavra).Noexemplotradicionaldas gramáticaselementaresdelatim(e,obviamente,omesmo sedácomogrego),oradicalrosderosapermanecefixo, poisumarosaéumarosa;qualqueroutrofator(seu relacionamentocomomundoexterior,comopensamento humanooucomqualidadesquesãonela):dacordarosa (genitivo)aomosquitonelapousado(ablativo),érefletido pelasdesinênciasrosam,rosarum,rosaeetc.Oárabe,por suavez,nãotemradicaisfixos:oradicaltrilítereéintra-flexionado:SaLaM;iSLaM;SaLyM;muSLiMetc. (correspondenteàousía,àsubstantia).Lohmanninterpreta estefatodoseguintemodo:"Oárabe,comoosemíticoem geral,deumlado,eogrego,deoutro,estabelecemrelações comomundo:um,principalmentepeloouvidoeooutro, peloolho.Talfatolevouofalantesemíticoauma preponderânciadareligião,enquantoogregotornou-seo inventordateoria.Daídecorre(ouprocede...?)uma diferençaanálogadasrespectivaslínguas,quantoaseu tipodeexpressão.Cadaumdessesdoistiposcaracteriza-se porumprocedimentogramaticalespecífico:flexãode raízesnosemíticoeflexãodetemasnoindo-europeu antigo" (29) . Aomnipresençadoverbosereaflexãodetemas,como agudamenteindicaLohmann,favorecemumsistemalogos ("ocular","especular")decorrespondênciaexataentre pensamentoerealidadeque,comoveremos,é característica também da Geometria grega. Jáoárabetendeaosistemama'na-pensamento "auricular","pensamentoconfundente"(30)-pelaausência daamarradoverbosercomoverbodeligação,pela indeterminação semântica de seus radicais trilíteres etc. Configura-se,assim,umadespretensãodeatingira ousía, a substantia. Talposicionamentoéconfirmadopelareligiãoe, particularmente,peladoutrinamu'atazilita,queéo pensamentoteológicoimpostooficialmentepelocalifaAl-Ma'amunemBagdad,àépocadeAl-Khwarizmi.Pode-se aplicaràÁlgebraasconsideraçõesdeLohmannsobreas "distorções"narecepçãodafilosofiagregapelosárabese, principalmente,porAverróes:"(Umaspecto)quesedeve conhecerparasecompreenderaintençãodoComentador (subjacenteàsuainterpretaçãodeAristóteles)éanoçãode essentia(comotraduçãodapalavraárabedhat).Dhat- conceitoprofundamentearraigadonoaristotelismoárabe naespeculaçãoteológicaislâmicadoséculoIXdanossa era,emBagdad-éaessênciadeDeus,emoposiçãoaos atributos,porcujamediação,fala-sedeDeusnoAlcorão.A essênciadeDeus,segundoadoutrinamu'tazilita-teologia oficialdeBagdadnaprimeirametadedoséculoIX-é absolutamentetranscendenteemoposiçãoaesses atributos.EssatranscendênciaabsolutadeDeus-expressa pelanoçãodhatetraduzidaemlatimporessentia-,em oposiçãoatodasasnoçõesdescritivas(sifat,emárabe), transformou-seemS.Tomás(e,decertamaneira,jáno Comentador,consideradoumaautoridadeporS.Tomás) emumatranscendênciadacoisarealcomrelaçãoao intelectohumano-transcendênciaqueconduziu,em seguida e enfim, ao Ding an sich de Kant". Junte-seaestasconsiderações,ocritério-certamente nãocasual-daseleçãodefontesdeAl-Khwarizmi. SolomonGandz,omodernoeditordeAl-Khwarizmi, consideraessencial,nofundadordaÁlgebra,seucaráter oriental,não-gregoemesmoanti-grego.Valeapena transcreversuaintroduçãoaocapítulo"Mensuração"do Kitab: 5. Al-Khwarizmi, o antagonista da influência gregaNauniversidadedeBagdad,fundadaporAl-Ma'amun (813-33),achamadaBaytal-Hikma,ondeAl-Khwarizmi trabalhousobopatrocíniodoCalifa,floresceutambémum velhocolegaseu,chamadoAl-HajjajibnYusufibnMatar. Estehomemeraolíderdacorrenteafavordarecepçãoda ciênciagregapelosárabes.Dedicoutodasuavidaa traduzirparaoárabeasobrasgregas.Jánocalifatode Harunal-Rashid(786-809),Al-HajjajtinhatraduzidoOs ElementosdeEuclides.QuandoAl-Ma'amuntornou-se califa,Al-Hajjajtentouobterseufavorparaumasegunda ediçãodesuatraduçãodeEuclides.Posteriormente(829-830),traduziuoAlmagesto.Ora,Al-Khwarizminunca mencionaseucoleganemtampoucosuasobras.Euclidese suaGeometria,emboradisponíveispelaboatraduçãodo colega,sãototalmenteignoradosporAl-Khwarizmi, quandoeleescrevesobreGeometria.Emais,no"Prefácio" desuaÁlgebra,Al-Khwarizmiclaramenteenfatizaseu objetivodeescreverumtratadopopularque,aocontrário damatemáticateóricagrega,sirvaafinspráticosdopovo emseusnegóciosdeherançaselegados,emseusassuntos jurídicos,comerciais,deexploraçãodaterraede escavaçãodecanais.Al-Khwarizmiaparecenãocomoum discípulodosgregos,masmuitopelocontrário,comoo adversáriodeAl-Hajjajedaescolagrega.Eleéo representantedasciênciaspopularesnativas.NaAcademia deBagdad,Al-Khwarizmirepresenta,antes,umareação contráriaàintroduçãodamatemáticagrega.SuaÁlgebra causaumaimpressãodeprotestocontraatraduçãode Euclidesecontratodaatendênciadeacolhimentodas ciências gregas (31). 6. Árabe x Grego: os conceitos de razão e proporçãoAgeometriagregaéomodeloacabadodosistema grego(32),deuma"línguadevisão",emcorrespondência, tanto quanto possível, bijetora com o real. Esse"tantoquantopossível"impõeseuslimites:na matemáticagrega,nãoencontraremosonúmerozero(o zeronãotemcorrespondente-logoscomoreal)eé conhecidooescândalohistóricoproduzidopeladescoberta daincomensurabilidadedegrandezas(onúmero irracional,paraosgregosa-logos!,entraemcontradição comoprópriosistemadepensamentogrego).E,deum modopositivo,Euclides(33)afirmaqueouméarealidade eaunidadeéaquilopeloquecadaumadascoisasquesão é chamada de um! Jáoárabeédiferente.Seusistemalíngua/pensamento nãoélogos,masma'na:prevalecenãoapretensãodea linguagemacompanharparipassuoente,masosentido mental(intentio,ma'na),independentementeda correspondência-logoscomoreal.Daíqueaciênciaárabe, porexcelência,sejaaÁlgebra(comzeroenúmeros negativos).Eoirracional,naincomensurabilidade geométrica, é aceito com total naturalidade pelo árabe. Descreveremosnestetópico,sucintamente,asuperação dosistemalogosnocasoparadigmáticodaconceituação matemáticaderazãoeproporção(34).Essasuperação temumimportantemarcoinicialnomatemáticoepoeta OmarKhayyam(35),queabrecaminhoparaosnúmeros irracionais. Paraanalisarosconceitosderazãoeproporçãonos Elementos,comecemospelaobservaçãodeHeath:"Édigno denota,ofatodequeateoriadasproporçõesrecebe duplotratamentoemEuclides:refere-seagrandezasem geral,nolivroV,esóaocasoparticulardenúmeros,no livro VII" (36) . ParaHeath,Euclidesteriaseguidoatradição: reproduzindoaantigateoriadeproporções(anteriorà crisedosincomensuráveis)etambémanova,atribuídaa Eudoxo(adolivroV).Estadefinição(V,def.5)reza:"Diz-se quemagnitudesestãonamesmarazão-aprimeiraparaa segundaeaterceiraparaaquarta-quando:para quaisquerequimúltiplosquesejamtomadosdaprimeirae daterceiracomparadosaquaisquerequimúltiplosque sejamtomadosdasegundaedaquarta,osprimeiros equimúltiploscoincidememsuperar(igualarouinferar)os segundosequimúltiplosrespectivamentetomadosna ordem correspondente". Vuilleminobservaqueestateoriapermiteeludiro problemadosirracionais(37).Subtrai-seoconceitode razãoaoâmbitodamedida(eevita,portanto,oescândalo dosincomensuráveis).Eéprecisamenteessadefiniçãode razãoqueseráobjetodecríticaporpartedeOmar Khayyam:paraele,Euclidesnãoteriaatinadocomo verdadeirosignificadoderazão,queseencontrano processodemedidadeumagrandezaporoutra(38). Assim, Omar Khayyam define A:B = C:DTodososmúltiplosdaprimeirasãoretiradosda segunda,atéquesetenhaumresto(R)menordoquea primeirae,igualmente,todososmúltiplosdaterceirasão retiradosdaquarta,atéquesetenhaumresto(R)menor doqueaterceira.Eonúmerodemúltiplosdaprimeirana segundaéigualaonúmerodemúltiplosdaterceirana quarta.Emais:extraímosdaprimeira,todososmúltiplos dorestodasegunda,atéobterumnovoresto(R)menor queorestodasegundaeigualmente,extraímosdaterceira, todososmúltiplosdorestodaquarta,atéobterumnovo restomenorqueorestodaquarta.Eonúmerode múltiplosdorestodasegundaéigualaonúmerode múltiplosdorestodaquarta.Etc.E,assim,adinfinitum. Então,arazãoentreaprimeiraeasegundaé necessariamenteaquesedáentreaterceiraeaquarta. Estaéqueéaverdadeiraproporcionalidadeamodo geométrico (39) Esteprocesso-jámencionadoporAristóteles-éoque osgregoschamamdeantanairesisouantiphayresis.A quantidademenor,digamosB,ésubtraídadeA,comresto R1. E assim, R1 = A - q1B.A seguir, R1 é subtraído - tanto quanto possível - de B: R2 = B - q2R1E assim por diante... Apósafirmaraexcelênciadaantiphayresis,Omar Khayyamlevantaaquestãodecisivaparao estabelecimentodosnúmerosirracionais:searazãodeve ser entendida como um tipo de número. Desprendidosdocompromissogregode correspondênciapensamento/realidade,autoresárabes comoNasirad-Dinat-Tusinãoverãoinconvenienteem considerartodasasrazões(eoslimitesdasantiphayresis) como números. Um tal acolhimento só é possível no sistema ma'na... Referências(1).Paraoepisódiodo"horroraovácuo",verPieper,Josef "AtesedePascal:TeologiaeFísica-umaintroduçãoao Préfacepourletraitéduvide"CuadernosdeCulturay Ciencia,Madrid-S.Paulo,Univ.AutónomadeMadrid/ DloFflchusp, 1996, N. 2, pp.29 e ss. (2).Aolongodestetrabalho,estaremosnosreferindo principalmenteaoscasosparadigmáticosdeOsElementos deEuclidesedaÁlgebra,talcomofundadaporAl-Khwarizmi. (3).Umaanálisedessesfatorescondicionantesdaarte árabeencontra-seemHanania,AidaR.ACaligrafiacomo ExpressãoCultural-AArtedeHassanMassoudy,tesede Livre-Docência, FFLCH-USP, 1995. (4).Anawati,M-MeGardet,LouisIntroductionala Théologie Musulmane, Paris, Vrin, 1981, p. 44. (5).Nãoédetodoalheioanossotema,ofatodequeesse califafezdeumaparticulardoutrina,amu'atazilita,a teologia oficial do Império. (6).E,comoindicaremos,nãosãocasuaisasdefinições euclidianasderazãoeproporção(eoslimitesimpostosa essesconceitosnosElementos)nemtampoucoareação dos matemáticos árabes a essas definições. (7).Comosesabe,oradicalconsonantalé,emárabe,o queésemanticamentedecisivo:asvogais,aprefixaçãoetc. só fazem uma determinação periférica de sentido. (8).Kline,MorrisMathematicalThoughtfromAncientto ModernTimes,NewYork,OxfordUniversityPress,1972,p. 192. (9).Cfr.porexemploNimer,MichelInfluênciasOrientaisna LínguaPortuguesa,SãoPaulo,s.c.p.,1943,vol.I,verbete Álgebra. (10).InQuatreconférencespubliquesorganiséespar l'Unesco, UNESCO, 1981, p. 152. (11).Garaudy,RogerPromessasdoIslam,RiodeJaneiro, Nova Fronteira, 1988, p. 70. (12).EmboraGaraudy,acostumado-porseupassado marxista-àdistinçãoentresocialismoideale"socialismo realmenteexistente",umaeoutravezrecorraà"distinção entreoensinocorânicoeapráticadospaíses muçulmanos..." (p. 70). (13) . E se só há filhas... (14).TratamosmaisamplamentedotemaemTomásde Aquino hoje, Curitiba-S. Paulo, PUC-PR - GRD, 1993. (15).SugestivamentenocapítuloIV,dedicadoaosleigos-a cujainiciativaeresponsabilidadedecristãoscompetea santificação da ordem temporal. (16) . Cfr. também Apostolicam Actuositatem (II, 7). (17).EmseusPrincípiospolíticos,filosóficos,sociaise religiosos, Rio de Janeiro, Record, 1980. (18).Enãomeramenteinspiradaaohagiógrafo,comono cristianismo. (19).Ayyatsignificanãosósinal,mastambémversículodo Alcorão. (20)."Deus,emsuamisericórdiainfinita,confiouoAlcorão a Seu profeta, para que o homem possa decifrar a natureza e,destaforma,transcendê-la.OestudodoAlcorãoéuma iniciaçãoaoestudodanatureza.Oestudodanaturezaé umaprocuradeDeus.Osfenômenosnaturaissãocifras quesignificamDeus.OAlcorãoforneceostestesde verificaçãoparaosesforçosdecifradoresdapesquisada natureza.OhomempodecompararanaturezaaoAlcorão, porquesuamenteparticipadoespíritodivino.Aorigem divinadamentehumanaévivenciadajustamenteporsua capacidadedeadequaçãodoAlcorãoànatureza.Porsua capacidadealgébricaedecifradora,amentehumanatem aestruturadamentedivina"(FLUSSER,V."Amesquitaea escrita",RevistadeEstudosÁrabes,DLO-FFLCHUSP,v.1,n. 2, 1993, p. 33. (21).Esteéumfatotãonotório,queédestacadoportodos oshistoriadoresdamatemáticaárabe.Citaremosaqui apenastrêsdosmaisconhecidos:Yousch-kewitch,A.P.Les mathématiquesarabes,Paris,Vrin-CNRS,1976.Dalmedico, A.-Peiffer,J.Unehistoiredesmathématiques,Paris,Seuil, 1988.Waerden,B.L.vanderAHistoryofAlgebra,NewYork, SpringerVerlag,1985.Note-sequeprecisamenteaparte sobreproblemaspráticosdeherança,aparteIIIdoKitab..., queocupamaisdametadedolivrodeAl-Khwarizmi,é omitidanastraduçõeslatinasdeRobertodeChester-feita emSegóviaem1145-edeGerardodeCremona-falecido em 1187 -, em Toledo. (22) . Garaudy, op. cit. pp. 81, 84-85. (23)."ModernidadeClássicaeCiênciaÁrabe",Revistade Estudos Árabes, DLO-FFLCHUSP, v. 1, n. 1, 1993, p. 9. (24).Lohmann,Johannes"SantoTomáseosÁrabes- Estruturaslingüísticaseformasdepensamento"Revistade EstudosÁrabes,CentrodeEstudosÁrabes/FFLCHUSP,São Paulo,AnoIII,n.5-6,pp.33-51.Tit.orig.:"SaintThomaset lesArabes(Structureslinguistiquesetformesdepensée)", RevuePhilosophiquedeLouvain,t.74,fév.1976,pp.30-44. Trad.: Ana L. Carvalho Fujikura e Helena Meidani. (25).Art.cit.p.38.Mesmoreconhecendoumacerta radicalizaçãonaposiçãodeLohmann,nãorestadúvidade quehá-senãoumadeterminação-pelomenosumforte condicionamentodopensamentopelasestruturasda língua.Talvezfossemelhorfalareminteraçãodialética,na medidaemquetambémopensamentoinfluenciaa formação da língua. (26).Nosentidotécnico-filosóficodeintentio,apresentado por Lohmann. (27) . Art. cit. p. 35-36. (28) . Art. cit. p. 35. (29) . Art. cit., p. 36. (30).Nosentido"técnico"queOrtegayGasseteJulian Marías dão à expressão. (31) . Cit. por Waerden, B. L. op. cit., pp. 14-15. (32).Jáageometriacontemporânea,ligadaàmoderna concepçãodesistemasaxiomáticos,aproximar-se-iade umaoutraformadepensamento(derivadadosistema logos,masjáindependente)-tambémdiscutidapor Lohmannnoartigocitado-,paradigmatizadopeloinglês falado nos dias de hoje. (33).LivroVII,def.1.Citaremospelaed.deHEATH,Thomas L.TheThirteenbooksofEuclid'sElements,translatedfrom thetextofHeibergwithIntr.andComm.NewYork,Dover, 2nd. ed., s.d., vol. I-III. (34).Paraumestudodarecepçãodoconceitoeuclidiano derazãoentreosárabes,veja-sePlooij,E.B.Al-Djajjâni- CommentaryonRatioinEuclid'sconceptionofRatioas criticizedbyarabiancommentators,Rotterdam,Uitgeuerij W.J. van Hengel, 1950. (35).OmarKhayyamestátãodistantedoidealgregode homologaçãodorealetãoimersonosamthaldosistema ma'na,quenumadasRubayyat-adenúmeroXCIV(cito pelaediçãoLesQuatrainsd'OmarKhayyam,trad.intr.et notesdeCharlesGrolleau,Paris,ChampLibre,1980-chega aescrever:"Parafalarclaramenteesemparábolas:/Nós somosaspeçasdojogo,jogadopeloCéu/Quebrinca conosconotabuleirodaexistência/Edepoisvoltamos,um a um, para a caixa do Nada". (36) . Op. cit. v. II, p. 113. (37).Vuillemin,J.DelaLogiquealaThéologie,Paris, Flammarion, 1967, pp. 12 e ss. (38).ComoobservaDirkJ.Struikem"OmarKhayyam Mathematician"TheMathematicsTeacher,April1958: "Omarishereontheroadtotheextensionofthenumber concept which leads to the notion of the real number". (39).OmarKhayyamcit.porWerden,B.L.v.derAHistory ofAlgebra-Fromal-KhwarizmitoEmmiNoether,N.York, Springer Verlag, 1985, p. 30.